Considerado a “menina dos olhos” da gestão Fernando Haddad e que custou milhões aos cofres públicos, algumas ciclovias e ciclofaixas de São Paulo – principalmente na Zona Leste – estão abandonadas. Quando serão revitalizadas?
Em São Paulo, nunca é de se admirar que de uma gestão para outra, inúmeros projetos sejam abandonados por despeito, inveja, falta de interesse político, dentre outros. Em 2015, quando o então prefeito Fernando Haddad resolveu ampliar a rede cicloviária da capital, o projeto foi bastante criticado.
E com certa razão.
Não pela ideia de consolidar o uso da bicicleta como veículo de transporte na cidade, de caráter inclusivo e universal, mas por causa dos altos custos que envolvia há 10 anos e que hoje, muitas estão deixadas de lado. Tanto, que o ex-prefeito foi processado pelo Tribunal de Contas do Município pelo superfaturamento destas.
O fato é que as ciclovias e ciclofaixas já existem em diversos países e economias de primeiro mundo há muito tempo, sendo mais baratas e bem mais conservadas do que as de São Paulo, por exemplo. Por que aqui se gasta tanto para depois abandonar?
Uma pedalada rápida pelo mundo
A primeira ciclovia no mundo foi criada na Alemanha, em 1885. Tratava-se de uma ciclofaixa de tijolo, com apenas 60 centímetros de largura no meio de uma rodovia principal. Era uma reivindicação dos moradores da cidade, que desejavam utilizar o caminho de forma segura e também para ensinar os filhos a pedalar.
Nos EUA, a primeira ciclovia surgiu em 1900, no Brooklyn, e se situava no meio de uma calçada larga para pedestres. A ideia agradou e no mesmo ano foi construída sobre palafitas a “California Cycleway”, uma ciclovia de 2 km totalmente iluminada. Isso em 1900, nos EUA. Em Copenhague, na Dinamarca, a primeira ciclovia é de 1910 e foi feita de forma ousada, em desnível, ocupando metade de uma calçada e metade de uma via expressa.
Nesse sentido, o Brasil também foi pioneiro, sendo o primeiro país da América Latina a ter uma ciclovia. E pasmem: embora muitos digam que a primeira ciclovia construída no país foi a de Campo Bom, no Rio Grande do Sul, em 1977 (que hoje conta com mais de 18 km de extensão), a primeira a ser construída na verdade foi em São Paulo, no mesmo ano, com a recém inaugurada Avenida Juscelino Kubitschek, na Zona Sul, a qual já contemplava a “pista para bicicletas”.
Naquele tempo, o Plano de Ciclovias da cidade contemplava uma rede de 185 km pela capital e somente começou a ser estudado quase uma década depois.
Posteriormente, a Gestão Fernando Haddad criou em 2015 o PlanMob/SP – Plano de Mobilização Cicloviária da capital que reuniu esforços da Prefeitura em conjunto com várias secretarias e empresas públicas vinculadas a estas, para atuar na expansão da rede, que consumiu milhões de reais, sendo alvo mais tarde de processos e acusações de superfaturamento.
O fato é que hoje, a cidade de São Paulo possui 731,2 km de vias com tratamento cicloviário permanente, sendo 699,1 km de Ciclovias/Ciclofaixas e 32,1 km de Ciclorrotas. E destas, 19% exigem atenção por terem pontos críticos.
Hoje, o ciclista paulistano conta com 7.309 vagas em 70 bicicletários e 1.221 vagas em 51 locais com Paraciclos, integrados ao sistema de transporte da cidade. Contudo, se as ciclovias e ciclofaixas estão em estado crítico, como o paulistano poderá usufruir?
Qual é o problema da rede cicloviária?
A má preservação das ciclofaixas. A gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) já liberou, até o momento, R$ 10,1 bilhões para investimentos em obras e programas municipais, cifra recorde que representa mais do que o dobro do valor médio investido na capital nos últimos quatro anos.
Contudo, segundo levantamento realizado recentemente pela Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade), de toda rede cicloviária da capital, 19% da rede precisa de atenção, sendo:
- 12% de estruturas que precisam de manutenção;
- 5% de estruturas que requerem intervenção ou requalificação imediata.
- 2% de estruturas inexistentes (tinta apagada ou asfalto quebrado).
Na região da Vila Carrão, por exemplo, as ruas Taubaté e Astarte receberam obras de revitalização nas ciclovias. Contudo, a ciclovia da rua João Vieira Prioste, desde o início na rua Atucuri, requer manutenção urgente, bem como as ciclovias das ruas Evangelina, Rogério Giorgi e Engenheiro Pegado, como mostram as fotos do levantamento.
Na região de Vila Formosa, as ciclovias das ruas Templários e Dona Vitória Speers – até a praça Dr. Luiz Antonio de Souza, estão, respectivamente, com problemas de manutenção urgente e estrutura inexistente ou acesso bloqueado.
No Aricanduva, outras ciclovias também requerem atenção, são as das ruas Rufino Fernandes e Rua Gaia, nas redondezas do Jardim Imperador. Tem também as ciclovias da rua Abilene, rua Arambaré, avenida Aguiar da Beira e avenida Cipriano Rodrigues, que necessitam de revitalização urgente.
Um pouco mais para o extremo leste, a Ciclovia Ayrton Senna, na Vila Jacuí, em toda sua extensão, também precisa de reparos.
São algumas extensões que não podem ser esquecidas pelo poder público. Afinal, a tendência é que com vias mais seguras, bem iluminadas e com a devida sinalização, o cidadão passe a pedalar mais e melhor para usufruir da cidade. Bom para o trânsito, para o meio ambiente e para a saúde de todos.
Portanto, para cada uma destas ciclovias, espera-se o devido investimento por parte da Secretaria de Mobilidade Urbana, que merecem e que não pode fundamentar-se apenas em pintar o chão de vermelho.
Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.
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