Há algumas semanas, a qualidade do ar em São Paulo foi registrada como péssima pela CETESB, ao menos, durante uma semana inteira. Sem nenhum exagero, a qualidade do ar que todos nós respiramos na cidade, foi considerada a pior do mundo.
Consegue imaginar inalar o pior ar do mundo em seus pulmões? Foi o que aconteceu, e, óbvio, ainda acontece, como é de se esperar em uma metrópole.
Como é feita a aferição da qualidade do ar?
A CETESB conta com uma rede de monitoramento de qualidade do ar composta por 85 estações, sendo 63 automáticas e 22 manuais, distribuídas no território paulista. O monitoramento segue os métodos de medição adotados internacionalmente.
Os sensores projetados nos monitores de qualidade do ar destas estações, detectam todo tipo de poluentes, por meio de lasers que escaneiam a densidade do material particulado em um metro cúbico de ar, enquanto outros dependem de imagens de satélite para medir a energia refletida ou emitida pela Terra.
Recentemente, esses monitores detectaram a pior qualidade do ar no mundo para se respirar em São Paulo. Está certo de que, essa situação é influenciada pelos diversos focos de incêndios ocorridos no Estado, agravada pelas condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos poluentes com atmosfera estável, pouca ventilação e ausência de chuvas, até aí dá para entender.
Contudo, será que não existem alternativas que permitam, numa cidade tão grande e poderosa como esta, ter um ar mais saudável? É o que a nossa reportagem tentou descobrir:
Como é o ar que respiramos?
O ar de São Paulo é uma mistura das substâncias mais inimagináveis, além é claro, das outras substâncias que entram microscópicamente na cidade, através dos ventos e outras ações do homem.
Assim, a poluição do ar pode ocorrer por fontes nocivas naturais e humanas, sendo as fontes naturais como erupção de vulcões e as humanas, a indústria, a queima do gás que se utiliza na cozinha ou mesmo as queimadas pelo Brasil afora: “o nosso modelo de desenvolvimento econômico é baseado em commodities, e esse modelo demanda muitos recursos naturais independe de práticas tecnológicas precárias como a agricultura de desmatamento e queimadas. Isso tudo juntamente com o trânsito nos grandes centros urbanos influenciam os padrões de emissão e de qualidade do ar que nós respiramos”, explica o professor Átila Iamarino, dr. em microbiologia e divulgador científico.
De acordo com o microbiólogo, “o ar em São Paulo possui uma mistura de poluentes atmosféricos, como poeira microscópica com dimensões que variam entre 2,5 micros a 10 milímetros, sendo que uma micro é o equivalente a um milionésimo de milésimo. Além dessa poeira, existem gases como amônia, monóxido de carbono, dióxido de nitrogênio e dióxido de enxofre, que são emitidos para a atmosfera, principalmente por indústrias de veículos, termelétricas, queima de biomassa e de combustíveis fósseis. Essa é a composição do ar que se respira e que, não por acaso, é considerado o pior do mundo”.
É possível melhorar a qualidade do ar?
Segundo especialistas da USP, sim, desde que se tenha a compreensão de que é preciso concentrar esforços em reduzir os causadores de emissão de poluentes e no uso de uma energia mais sustentável: “melhorar a qualidade do ar de uma cidade como a capital paulista é possível, mas antes é preciso entender a origem da poluição, trabalhando no entendimento dos processos ligados à poluição atmosférica, visando a propostas para a melhoria da qualidade do ar”, explicou o professor Edmilson Dias de Freitas, responsável pelo Laboratório Móvel para Pesquisa e Monitoramento da Qualidade do Ar.
Conforme um estudo divulgado em 2018 pelo Instituto de Saúde e Sustentabilidade e a Escola Paulista de Medicina, se os níveis de poluição continuarem como estão, até 2025 haverá mais de 51 mil mortes na Grande São Paulo provocadas pela má qualidade do ar.
Em tempos de baixa umidade do ar e pouquíssima chuva, a prefeitura de São Paulo recomenda evitar exercícios físicos ao ar livre; umidificar o ambiente por meio de vaporizadores, toalhas molhadas e/ou recipientes com água; permanecer em locais arejados e protegidos do sol; hidratar-se com maior frequência; usar soro fisiológico nas narinas; usar solução lubrificante ocular e evitar aglomerações.
Só isso basta? Como colocar em prática?
Em 1980, Cubatão, no litoral paulista, foi eleita a cidade com o pior ar do mundo para se respirar. Tanto que a cidade era conhecida como o “Vale da Morte”. Para piorar, em 84, um incêndio na Vila Sororó matou 93 pessoas e piorou ainda mais o ar que a população – em geral de baixa renda – era obrigada a respirar. A partir dali, a prefeitura juntamente com o Governo do Estado, uniram esforços para controlar com mais rigor as fontes de poluição do solo, da água e do ar.
O resultado foi que na ECO 92 – Conferência sobre o Meio Ambiente da ONU, os indicadores já apontavam melhora significativa do ar naquela cidade. Atualmente, Cubatão já pode ostentar o título de uma das cidades do mundo com o melhor ar para se respirar.
O mesmo, segundo especialistas, ainda pode acontecer em São Paulo, mas para isso, o governo precisa assumir o compromisso e a responsabilidade, juntamente com a Sociedade, de reduzir a emissão de poluentes, cumprindo a risca, por exemplo, o Plano de Controle de Poluição Veicular (PCPV) do Estado de São Paulo. Segundo a Cetesb, 70% da poluição do ar é composta de Ozônio, poluente emitido pelos veículos.
Outras medidas como maior arborização, limpeza, conservação de áreas públicas de lazer e outros, tendem a filtrar ainda mais o ar que se respira. E claro, a população deve fazer a sua parte, mantendo o mais limpo possível, cada qual, o seu logradouro.
Respirar é uma das coisas mais gostosas e essenciais para a vida – dentre as quais ainda não se paga nada por isso. Ameniza o estresse, tranquiliza o corpo e a mente, ajudando o dia a transcorrer melhor. Se nada for feito agora, o paulistano vai pagar caro no futuro e com a própria saúde. E nem adianta suspirar depois.
Reportagem: Fernando Aires. Foto: Divulgação.
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